Molina*
Senhora do "Ó"
52x38 cm
250,00€
A PEQUENA PRAÇA
A minha vida tinha tomado a forma da
pequena praça
Naquele outono em que a tua morte se
organizava meticulosamente
Eu agarrava-me à praça porque tu
amavas
A humanidade humilde e nostálgica dos
pequenas lojas
Onde os caixeiros dobram e desdobram
fitos e fazendas
Eu procurava tornar-me tu porque tu
ias morrer
E a vida toda deixava ali de ser a
minha
Eu procurava sorrir como tu sorrias
Ao vendedor de jornais ao vendedor de
tabaco
E à mulher sem pernas que vendia
violetas
Eu pedia à mulher sem pernas que
rezasse por ti
Eu acendia velas em todos os altares
Das igrejas que ficam no canto desta
praça
Pois mal abri os olhos e vi foi para
ler
A vocação do eterno escrita no teu
rosto
Eu convocava as ruas os lugares as
gentes
Que foram as testemunhas do teu rosto
Para que eles te chamassem para que
eles desfizessem
O tecido que a morte entrelaçava em
ti
Sophia de
Mello Breyner Andresen
*
1926-2002
Nascido
em Espanha em 1926 cedo largou pelo mundo tendo vivido em vários locais da
Europa e da América. No Brasil deu raizes à sua grande paixão – a Pintura. Aí
estuda Belas-Artes e aí ganha elogios da crítica que o apontam como um pintor
versátil. É o crescendo do pintor apaixonado entre o “figurativo
arquitectónico” que devolve a verdade aos locais que pinta e o “abstracto
marcante” pela força do cromático que impõe nas suas telas.
Trazido
pelo destino, instala-se em Portugal na década de 60 onde permanece até à
actualidade. Portugal torna-se o país que sempre procurou e que o realiza
completamente como artista. A vertente de pintor figurativo torna-se mais
marcante devido ao seu amor às terras portuguesas. Ninguém pintou mais Portugal
do que ele, desde as pequenas aldeias até às grandes cidades, de norte a sul do
país. Mantém viva a paixão pelo abstracto como forma de expressão máxima do seu
interior de artista.
Em
2000 decide dar um novo fôlego à sua obra de pintor abstracto e quebrar com a
imagem exclusiva do figurativo arquitectónico. Pouco conhecida do grande
público, esta esteve reservada a coleccionadores. Assim que surge perante o
público, a surpresa é tão grande como a aceitação. O mestre da arquitectura
portuguesa levada à pintura revela-se naquilo que o fez brotar como grande
pintor - a arte do cromático num desafio à própria imaginação. É difícil não
ser seduzido por este jogo em que cada cor é como que explorada à exaustão nas
suas mais diversas matizes.
Faleceu
em Lisboa a 5 de Agosto de 2002 de forma inesperada sem ter tido a felicidade
de estar presente na exposição que sempre ambicionou fazer. Viveu, no entanto,
a profunda alegria dos três anos que lhe levou a prepará-la.
Realizou
várias exposições desde 1980.
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